16/06/2004
A cadeia alimentar aquática do Pantanal do rio Paraguai foi investigada durante um ciclo de seca-cheia completo (1998-99) com o objetivo de identificar as fontes primárias de energia (carbono) que a sustentam. Em um lago marginal (baía do Castelo, Corumbá - MS) característico da planície de inundação do rio Paraguai foram amostrados organismos representantes dos chamados produtores primários (algas, plantas terrestres e aquáticas) e dos consumidores primários (pulgas d’água e peixes comedores de lodo como o acari, curimbatá, sairú xororó e sairú liso), que são assim chamados, pois são os animais que se alimentam desses produtores ou de seus detritos.
Apesar da grande quantidade de detrito proveniente das plantas terrestres e aquáticas, as algas são consideradas a fonte de carbono (energia) principal em sistemas de áreas inundáveis, como a planície de inundação do rio Paraguai. Ou seja, as algas seriam a fonte de energia que sustenta a base da cadeia alimentar aquática, sendo que no topo desta cadeia estão os peixes carnívoros como o pintado, cachara, dourado e jaú. Porém, em nosso estudo, certa característica da composição do carbono das algas (sua “assinatura isotópica” ou “sinal isotópico”) foi bem diferente daquela obtida em outras áreas de inundação tropicais da América do Sul (média= -34‰), apresentando um sinal mais “positivo”, ou “menos negativo” (média= -29‰). Além disso, surpreendentemente, os valores da assinatura isotópica do carbono das algas foram também muito diferentes dos valores dos consumidores primários, que apresentaram valores bem mais “negativos” (variando entre -43 a -26‰). Por serem seus consumidores em potencial, os consumidores primários deveriam ter apresentado valores muito mais próximos a -29‰, considerando que somente as algas estivessem envolvidas no fornecimento de energia para estes organismos.
Desta forma, os fatos observados somente poderiam ser explicados se, além das algas, uma outra fonte primária de carbono (mais “negativa” ainda) estivesse envolvida, o que foi reforçado pelos valores encontrados em certo tipo de organismo que vive no sedimento (larvas de insetos quironomídeos), cujos valores obtidos variaram entre -62 e -49‰) e que servem de alimento para alguns peixes. Esta outra fonte de carbono envolvida poderia ser proveniente de um tipo de bactérias (bactérias metanotróficas), que utilizam como fonte de carbono (energia) o metano, um gás proveniente da decomposição da matéria orgânica submersa.