Campinas - Antonio Rodrigues, mais conhecido como seu Nico, nasceu no mesmo sítio onde mora, no município de Elisiário, e seu pai já trabalhava com leite. Na época era só para o gasto, pois o forte economicamente era o café. Seu Nico conta que um vizinho plantava laranja e tinha um viveiro de mudas. Uma vaca de sua propriedade entrava e comia as mudas de citros, o que fez com que seu Nico as comprasse. A citricultura levantou a propriedade. Ele pagou todas as contas. Mas veio o amarelinho e acabou com tudo.
Nada dava certo, então ele voltou a produzir leite. Ele explica que o leite era bom, mas pouco. Foi então que procurou a Casa da Agricultura e soube do Cati Leite. Seu Nico achou que seria difícil seguir todas as regras mas pensou: “não temos outra opção mesmo”. Em 2002, foi o pioneiro na implantação do projeto na região.
No início ele tinha 20 animais e produzia de 20 a 30 litros por dia. Seu filho Marcelo, que hoje é seu braço direito, tinha ido para Santo André, trabalhar no Pan Americano, mas ficou por apenas quatro meses e voltou para ajudar o pai na implantação do projeto. O outro filho, Rodrigo, trabalhava no mercado em São José do Rio Preto, voltou para casa e fez uma horta para entregar seus produtos no CEASA. A horta não existe mais, mas ele continua a transportar produtos.
Foi no lugar da horta que fizeram o primeiro módulo de mombaça em 1,13 hectares. Depois veio o segundo com 0,8 ha e no meio da tangerina plantou o tifton, onde começou o terceiro módulo com 1,4 ha, que foi dividido em dois. Dando continuidade ao sistema de pastejo rotacionado, entrou no quarto módulo, com mais 1,4 ha, que foi dividido em três: bezerros, garrotes e novilhas. Hoje, são sete módulos e sua produção é de 450 litros por dia. São 85 animais de mamando a caducando e seus piquetes têm tifton, mombaça e aveia.
Seu Nico afirma que “produzir leite é difícil, mas é ideal para áreas pequenas”. Como ele sempre diz é preciso agradecer a CATI, a EMBRAPA São Carlos e a prefeitura municipal de Elisiário, pois “sem essa ajuda, que trouxe uma boa experiência, não iríamos progredir. O processo é lento, porque estamos criando o rebanho. 25 bezerras estão próximas a iniciar a produção. Além disso, por causa das visitas, conhecemos cada vez mais gente e aprendemos coisas novas dia a dia”.
O produtor explica que a fase agora é de selecionar e descartar aquelas com dificuldade de inseminar. Essa é a função do seu filho Marcelo, que além de fazer a inseminação, é responsável pelas ordenhas e pelas anotações. Ao seu Nico cabe a alimentação dos animais e o manejo dos pastos.
Pode-se resumir a pecuária leiteira do seu Nico da seguinte forma: em 2002 ele produzia 57 litros por dia com 12 vacas em lactação. Sua produtividade por área (16 ha) era de 1.400 litros/ha/ano. O custo operacional por litro era R$ 0,57 e ele recebia em média R$ 0,60. Hoje está produzindo 500 litros por dia, com 29 vacas em lactação. Ele usa sete hectares, sendo dois com plantio de cana. Sua produtividade por área é de 26 mil litros/ha/ano. O custo operacional é de R$ 0,47 por litro e a média do preço pago ao produtor é de R$ 0,64. Em 2002 ele tinha 57% dos animais em lactação e hoje são 78%.
Como retorno da pecuária leiteira ou com o subsídio do programa Estadual de Microbacias Hidrográficas, seu Nico já comprou trator Massey 275, carreta, roçadeira, ensiladeira, esparramadeira de calcário, construiu a sala de ordenha e aumentou a irrigação, que hoje está em todos os piquetes.
Na propriedade aconteceram dois dias de campo com cerca de 600 pessoas. Recebe anualmente mais de 1.500 pessoas para conhecer o Projeto onde, fora os diversos municípios paulistas, recebeu gente de Minas Gerais, Goiás, Paraná, Maranhão, Acre, Tocantins e Venezuela.
Alfafa surge como opção para alimentação de vacas em lactação
O produtor Leonildo Romeiro Gasques, da Chácara Nossa Senhora Aparecida, no município de São Francisco, faz parte do Projeto CATI Leite – desenvolvendo São Paulo, desde 2003. Na época ele produzia 300 litros de leite por dia e hoje, mesmo na estiagem, está com mil litros dos 54 animais que estão em lactação.
A novidade é que há cerca de um ano e meio, desde de maio de 2008, ele está utilizando a alfafa para alimentar seus animais. Leonildo explica que tem 78 piquetes numa área de 5,3 hectares e mais 30 só com alfafa, numa área de 0,7 hectares. Ele destaca que começou a cortar em agosto e até agora foram doze cortes. “São cerca de 40 quilos por dia de matéria verde, o que equivale a um saco de ração comercial. Dá para alimentar umas dez vacas e é por isso que escolho o melhor lote de animais para dar essa alimentação diferenciada”.
A alfafa é uma leguminosa perene e é utilizada principalmente para produção de feno na alimentação de equinos. No Brasil a variedade crioula é a mais utilizada, pela sua rusticidade e melhor adaptação ao clima tropical e estar pronta para corte a cada 30 dias.
Segundo o engenheiro agrônomo Valdecir Segura Pinotti, da Casa da Agricultura local e responsável pelo suporte técnico no projeto CATI Leite, em São Francisco, a alfafa se adaptou bem ao clima e solo da região e vem apresentando resultados satisfatórios. “Em tempos de crise é preciso buscar alternativas para baratear a produção de leite e a alfafa foi uma experiência de sucesso para pastejo de bovino leiteiro e possibilita que o agricultor produza com viabilidade econômica”.
Valdecir destaca que a alfafa é grande fonte de proteína e tem um custo quatro vezes menor que a ração comercial. No caso do Sr. Leonildo, nessa área de 0,7 hectares, ele cultiva alfafa suficiente para o fornecimento diário para os animais mais produtivos, ou seja, aqueles que produzem acima dos 35 litros. “A proposta de cultivo foi um desafio, devido ao clima ser considerado inadequado. Mas, o resultado é que a produção de matéria seca por hectare foi de 23 toneladas no primeiro ano. O que prova a viabilidade da cultura para que o produtor tenha mais uma alternativa para continuar na atividade”.
A pecuária leiteira representa 10% da economia do município. O leite se tornou uma atividade tão importante que os produtores buscaram na Casa da Agricultura local, uma forma de produzir mais com menores custos. Foi implantado o projeto CATI Leite e desde então se tem buscado tecnologias adequadas, que atendam as expectativas de cada região.
Como na produção de leite a alimentação é um dos itens mais importantes, a alfafa, por ser uma forrageira de alta produção de matéria seca, elevada qualidade nutricional, alta palatabilidade e boa digestibilidade, surge como uma boa alternativa para alimentação de animais. Além disso, com a introdução da alfafa pode-se reduzir o uso de concentrados, que são onerosos na atividade leiteira.
O agrônomo enfoca que também existem os contras. Um dos problemas é o manejo de ervas daninhas, já que não existe nenhum herbicida recomendado para a cultura. Quanto às doenças, a única que apareceu foi a antracnose, mas não acarreta danos econômicos, já que acontece na época do corte. Valdecir finaliza dizendo que por ser uma novidade na região, nem os técnicos e nem o produtor sabem o tempo de vida útil da alfafa, mas a expectativa de todos é que a vida útil da cultura chegue, pelo menos, há seis anos”.
Para o produtor Leonildo, a melhor coisa que aconteceu com a implantação do projeto foi reunir toda a família. A filha, o genro e a netinha, que tinham ido para outra cidade em busca de um trabalho melhor, hoje tem sua casa e trabalham na propriedade. O filho, que acabou o curso superior, não deixou a chácara e quer construir uma casa, já que está pensando em se casar. Enfim, todos vivem exclusivamente da produção leiteira.
A Chácara Nossa Senhora Aparecida tem 108 piquetes irrigados e um total de 80 animais, sendo 54 em lactação. A produtividade média é de 20 litros/vaca/dia. O custo de produção está em torno de R$ 0,50 por litro de leite e o preço pago ao produtor é R$ 0,90.
Fonte:
Coordenadoria de Assistência Técnica Integral - CATI/SP
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